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Lygia Fagundes Telles: conheça a vida e obras da escritora Lygia Fagundes Telles: conheça a vida e obras da escritora

Lygia Fagundes Telles: conheça a vida e obras da escritora

Lygia Fagundes Telles, conhecida como a grande dama da literatura brasileira, faleceu em 3 de abril de 2022, após deixar sua marca na produção literária do país. A autora foi eternizada na Academia Brasileira de Letras e recebeu diversas honrarias. Você conhece a escritora e suas principais obras?

Quer aprender sobre um dos maiores nomes da literatura brasileira? É só continuar a leitura!

Quem foi Lygia Fagundes Telles?

Lygia Fagundes Telles, nascida em 1918, foi uma autora paulista considerada “a dama da literatura brasileira” e uma das maiores autoras do país. Considerada por muitos a maior escritora brasileira do século XX, Lygia era advogada, romancista e contista. Foi membro da Academia Paulista de Letras, Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa.

Nascida em São Paulo, publicou seu primeiro livro aos 15 anos, “Porão e Sobrado”. Estudou Direito e Educação Física e, ainda estudante, começou a frequentar encontros literários, contando com a presença de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Além disso, passou, desde jovem, a contribuir para as revistas “Arcádia” e “A balança”.

A autora trabalhou também como Procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu até se aposentar, e foi presidente da Cinemateca Brasileira. Também trabalhou na construção do projeto do Museu de Literatura Brasileira, que acabou não acontecendo e integrou o corpo de jurados do Concurso Unibanco de Literatura, ao lado de outros escritores como Otto Lara Resende e Antônio Houaiss.

Em 3 de abril de 2022, a escritora faleceu em casa, de causas naturais, aos 92 anos. Seu velório contou com a presença de diversas homenagens e fãs querendo prestar os últimos agradecimentos à autora.

Uma história de transgressão

Foi na faculdade de Direito que conheceu quem seria a sua melhor amiga por toda a vida, a também renomada escritora Hilda Hilst. Lygia contou que sofria preconceito por ser mulher e querer seguir a profissão de escritora, carreira tradicionalmente masculina na época. A saída, segundo ela, foi assumir a luta e “sair da condição de mulher goiabada”, ou seja, a mulher caseira, do lar.

Em 1947, Lygia Fagundes Telles casou-se com seu professor de direito internacional privado, Goffredo da Silva Telles Júnior, com quem teve um filho. Apesar de ter se separado em 1960, permaneceu com o sobrenome Telles. Em 1963, casou-se com o ensaísta e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, com quem permaneceu até 1977. O segundo casamento foi um escândalo: Lygia não tinha oficialmente se divorciado antes de se juntar com Paulo Emílio Salles Gomes, o que não era bem aceito pela sociedade.

Em 1977, a autora se reuniu com outros autores para entregar o “Manifesto dos intelectuais”, contra a censura da Ditadura Militar. O protesto foi a maior manifestação de intelectuais desde 1968.

“A censura vinha exorbitando em relação ao teatro, ao cinema, às artes plásticas, livros e jornais. Nós fomos nos sentindo frágeis. É bonito isso, o sentimento do homem fragilizado politicamente, a sua vontade de se reunir, de formar seus círculos. Em 1976, jovens escritores em Belo Horizonte, em mesas de bar, já estavam se levantando, tentando também armar não se sabe bem o quê, não se sabe se um manifesto ou um memorial. As ações estavam coincidindo, embora não houvesse ainda entre nós contato mais profundo. O movimento de Belo Horizonte acabou liderando grupos esparsos de São Paulo e do Rio, que tinha à frente Rubem Fonseca e José Louzeiro. Eu me sentia dentro de uma nova inconfidência, de origem mineira e âmbito nacional”. 

A autora, sobre o motivo do manifesto

Prêmios

A autora teve uma carreira de sucesso e a qualidade de suas obras literárias foi reconhecida mundialmente. Lygia Fagundes Telles chegou a receber o Prêmio Camões, o maior prêmio da literatura portuguesa. Confira a lista de homenagens e prêmios recebidos pela dama da literatura brasileira:

  • Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras (1949);
  • Instituto Nacional do Livro (1958);
  • Prêmio Boa Leitura (1964);
  • Jabuti (1966, 1974, 1996 e 2001);
  • Prêmio do I Concurso Nacional de Contos do Governo do Paraná (1968);
  • Grande Prêmio Internacional Feminino para Contos Estrangeiros (1969) — França;
  • Candango (1969);
  • Guimarães Rosa (1972);
  • Coelho Neto (1974);
  • Prêmio Ficção, da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1974 e 1980);
  • APCA (1974, 1980, 2001 e 2007);
  • PEN Clube do Brasil (1977);
  • II Bienal Nestlé de Literatura Brasileira Contos (1984);
  • Pedro Nava (1989);
  • Arthur Azevedo (1995);
  • Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional;
  • APLUB (1995);
  • Bunge (2005);
  • Camões (2005);
  • Mulheres mais Influentes (2007);
  • Dra. Maria Imaculada Xavier da Silveira (2008);
  • Juca Pato (2009);
  • Conrado Wessel (2015);
  • Indicação ao Prêmio Nobel da Literatura (2016);

Reconhecimento e honras

  • Medalha Mário de Andrade;
  • Medalha Mérito Cívico e Cultural;
  • Medalha do Grande Prêmio Literário de Cannes;
  • Medalha do Prêmio Imperatriz Leopoldina;
  • Ordem do Rio Branco, Comendador;
  • Personalidade literária do ano de 1987, Câmara Brasileira do Livro;
  • Ordre des Arts et des Lettres, Ministério da Cultura da França;
  • Ordem Al Mérito Docente y Cultural Gabriela Mistral;
  • Doutora Honoris Causa, UNB;
  • Cavaleiro da Ordem do Ipiranga;
  • Homenagem durante o Encontro Mundial de Invenção Literária, Academia Paulista de Letras

Sobre os prêmios, Lygia disse certa vez:

“Como eu digo no texto sobre o meu processo criativo, sou uma escritora do Terceiro Mundo, uma escritora engajada nos horrores das diferenças sociais, uma escritora num país de miseráveis e analfabetos. […] Aqui, os que sabem ler, não leem. Os que compram livros também não leem. […] Fala-se muito em prêmios. Ora, os prêmios… Escrevemos numa língua desconhecida. Desprestigiada. Não somos lidos nem na América Latina, quem nos conhece na Venezuela? No Chile? Na Colômbia? […] Participei em Cáli de um encontro da nova narrativa sul-americana, fui para falar do meu trabalho. E acabei informando ao público de escritores sul-americanos que a nossa língua era o português. Português? Sim, português com estilo brasileiro”.

Livros de Lygia Fagundes Telles

A obra literária de Lygia Fagundes Telles constitui-se de quatro romances, 20 livros de contos, crônicas, participações em antologias e coletâneas. A autora também produziu o roteiro de Dom Casmurro para o cinema, junto com seu marido Paulo Emílio Sales Gomes (1967). Suas obras foram traduzidas para diversas línguas (alemão, espanhol, polaco, sueco, italiano, tcheco e francês) e adaptadas para a televisão, teatro e cinema. Confira a lista completa de obras da autora:

  • Porão e Sobrado, contos, 1938
  • Praia Viva, contos, 1944
  • O Cacto Vermelho, contos, 1949
  • Ciranda de Pedra, romance, 1954
  • Histórias do Desencontro, contos, 1958
  • Verão no Aquário, romance, 1964
  • Histórias Escolhidas, contos, 1964
  • O Jardim Selvagem, contos, 1965
  • Antes do Baile Verde, contos, 1970
  • As Meninas, romance, 1973
  • Seminário dos Ratos, contos, 1977
  • Filhos Prodígios, contos, 1978
  • A Disciplina do Amor, contos, 1980
  • Mistérios, contos, 1981
  • Venha Ver o Por do Sol e Outros Contos, 1987
  • As Horas Nuas, romance, 1989
  • A Noite Escura e Mais Eu, contos, 1995
  • Invenção e Memória, contos, 2000
  • Biruta, contos, 2004
  • Histórias de Mistérios, contos, 2004
  • Conspiração de Nuvens, contos, 2007
  • Passaporte para a China, contos, 2011

Características literárias da obra de Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles é considerada uma das principais representantes da terceira fase do modernismo brasileiro, ao lado de Clarice Lispector e Rubem Braga.

Sua vasta produção conta com protagonismo feminino, com personagens bem desenvolvidos psicologicamente, cheios de dúvidas e incertezas, vivenciando conflitos existenciais em centros urbanos frágeis. Por isso, suas obras são frequentemente consideradas feministas.

A produção da autora também é caracterizada por uma prosa intimista, marcada por fluxo de consciência e monólogo interior (tal como Clarice Lispector, alçando as mulheres finalmente à característica de protagonistas com livros baseados na perspectiva feminina). A autora conta com recursos como a sinestesia, ambiguidade e ironia, além da mimese e falas diretas.

Além da contextualização em centros urbanos e conflitos sociopolíticos da época, Lygia Fagundes Telles também inspirava-se no realismo mágico (com representantes como Gabriel García Márquez e Edgar Allan Poe) em suas obras (As Formigas, Natal na Barca e Noturno Amarelo). Lygia também aborda em suas obras temas como o amor, drogas, adultério e outros problemas sociais.

Suas obras foram elogiadas por renomados nomes da literatura nacional e internacional, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu, José Saramago, João Ubaldo Ribeiro (de onde saiu a alcunha “grande dama da literatura brasileira”) e Ignácio Loyola Brandão.

“O texto de Lygia prima pela unidade, pela densidade, pela extraordinária dignidade que confere à língua portuguesa, mesmo quando trata de temas ou situações sórdidas, perversas, violentas. Ler Lygia Fagundes Telles, para quem é dado a esses requintes, traz o prazer da descoberta da beleza, da sonoridade e da expressividade” Caio Fernando Abreu 

Quais são as obras mais famosas de Lygia Fagundes Telles?

Quer conhecer mais do estilo de Lygia Fagundes Telles? Confira as obras mais famosas da autora:

As meninas (1973)

“As meninas” é um romance de Lygia Fagundes Telles publicado em 1973 e premiado com o Prêmio Jabuti em 1974. Nele, a autora utiliza diversos focos narrativos para contar a história de três meninas: as amigas Lorena, Lia e Ana Clara. Cada personagem tem sua própria maneira de se expressar, mas sempre em primeira pessoa. Por isso, a autora utiliza a estratégica do fluxo de consciência para intercalar as narrações. O narrador, porém, é desconhecido, mas onisciente.

Seminário dos ratos (1998)

Publicado pela primeira vez em 1977, o livro é um compilado de contos que adentra no realismo mágico experimentado pela autora. São 14 contos com temas como amor, solidão, conflitos existenciais, loucura e medos. É nesse livro que está o famoso conto “As formigas” e “Noturno Amarelo”.

“Seminário dos ratos”, conto que dá nome ao livro, é uma crítica à repressão da ditadura militar, à burocracia e às elites.

Venha ver o pôr do sol (1988)

“Venha ver o pôr do sol” é outro livro de contos de Lygia Fagundes Telles também no estilo realismo mágico. Aqui, é possível conhecer o lado “terror” de Lygia e a maestria que a autora possui na construção de narrativas e diálogos. O objetivo da autora é captar a vida para além dos conceitos superficiais do dia a dia.

O cacto vermelho (1949)

O terceiro livro de contos de Lygia Fagundes Telles foi agraciado com o prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras. “O cacto vermelho” traz doze contos, como “O menino” e “A confissão de Leontina”. O livro nunca foi reeditado, contando apenas com a edição de 1949.

Antes do baile verde (1970)

Um dos livros de contos mais marcantes de Lygia Fagundes Telles, “Antes do baile verde” foi publicado em 1970 e contém dezoito contos que a consagraram como contista. A obra lhe rendeu os prêmios “Guimarães Rosa” e “Prêmio Coelho Neto”, em 1973.

O livro aborda temas como loucura, adultério, amor, insatisfação conjugal e a desmistificação de papéis familiares tradicionais.

Frases de Lygia Fagundes Telles

A produção literária da autora e suas entrevistas renderam inúmeras citações inspiradoras. Conheça algumas:

  • Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente;
  • Não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo;
  • Se é difícil carregar a solidão, mais difícil ainda é carregar uma companhia;
  • A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida;
  • O menino então sorri e nem o inimigo mais feroz resistirá a esse sorriso de quem se oferece tão sem defesa;
  • A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza;

Agora que você já aprendeu mais sobre as principais obras de Lygia Fagundes Telles e as características da sua produção, que tal experimentar iniciar a leitura por uma de suas obras? Escolha a que mais te chama a atenção e boa leitura!

Continue lendo as dicas de estudos aqui no blog do Pravaler para se preparar para as provas de vestibulares.

Texto escrito por: Prasaber
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