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Carolina Maria de Jesus: vida e obra da escritora Carolina Maria de Jesus: vida e obra da escritora

Carolina Maria de Jesus: vida e obra da escritora

A importância de Carolina Maria de Jesus para a literatura brasileira é indiscutível. Uma das porta-vozes da mulher negra e pobre de um Brasil não tão distante, a autora traz seu ponto de vista sobre a fome, a pobreza, a solidão, a maternidade, o amor e diversos outros temas em seus diários, especialmente Quarto de Despejo, que se tornou um best seller traduzido em 16 idiomas e vendido em mais de 40 países.

Neste artigo, você vai saber tudo sobre a vida e a obra da autora. Acompanhe!

Quem foi Carolina Maria de Jesus?

Carolina Maria de Jesus nasceu em um contexto improvável para uma escritora naquela época. Catadora de papel e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, Carolina conseguiu desenvolver o gosto pela leitura e pela escrita, o que acabou resultando em um grandioso e impactante legado para a literatura brasileira e mundial.

1914 a 1940 – Nascimento, infância e a vida em Minas Gerais

Nascida em 14 de maio de 1914, em Sacramento, uma comunidade rural em Minas Gerais, Carolina era filha ilegítima de um homem casado e sofreu maus tratos durante toda a infância. Cresceu em meio a um contexto em que a arte dificilmente poderia alcançar, porém, foi estimulada por sua mãe a estudar e o fez até o segundo ano do Ensino Fundamental, quando teve a oportunidade de aprender a ler e a escrever.

Já nessa época, se destacava o seu interesse pela literatura, o que a fez procurar livros com sua vizinha e ter acesso à Escrava Isaura, obra de Bernardo Guimarães, que possivelmente despertou em Carolina a ânsia pela escrita.
Após ser acusada de roubo junto com sua mãe – fato que a levou à prisão até que se descobrisse que não havia roubo algum – e posteriormente à morte dela, Carolina rompeu com sua vida no interior de Minas Gerais e se mudou para São Paulo.

No ano de 1937, a cidade de São Paulo iniciava seu processo de modernização e assistia ao nascimento das primeiras favelas. Foi em uma delas, a favela do Canindé, que Carolina encontrou o abrigo onde nasceram seus três filhos – João José de Jesus, José Carlos de Jesus e Vera Eunice de Jesus Lima, cada um de um relacionamento diferente. Não se via em relações duradouras, pois pensava que marido nenhum entenderia sua relação com os livros, com a escrita e os registros do cotidiano que vivenciava.

Na favela, Carolina construiu seu barraco utilizando materiais que encontrava no lixo, como madeiras, latas, papelão e qualquer outra coisa que encontrasse pelo caminho. Durante a noite, trabalhava coletando papéis para conseguir se sustentar e alimentar suas crianças – o que nem sempre conseguia.

1941 a 1965 – “Ideias literárias”

A escrita para Carolina tornou-se cada vez mais incontrolável – causa e efeito da solidão que sentia e do convívio turbulento com seus vizinhos “analfabetos”, como os descreve, que a tornava uma criatura isolada e arredia, considerada arrogante e esnobe por conta do falar “elevado”, distante do português “errado”, que servia como uma forma de se colocar acima da realidade em que vivia.

Nessa realidade bruta, era na escrita que Carolina encontrava alento. As ideias literárias lhe invadiam a mente de forma incessante, traduzidas na escrita que lhe servia como remédio contra a dor da pobreza.

Foi nesse contexto que Audálio Dantas, um jornalista que estava na favela em busca de material para reportagem, viu Carolina discutindo com os meninos grandes que não queriam desocupar o parquinho. A ameaça: colocar o nome deles em seu livro. A fala chamou a atenção do jornalista, que foi descobrir qual era o tal livro e, naquele momento, descobriu o talento da escritora.

1977 – Morte

Ao longo dos anos e depois de ver sua obra ser reverenciada por grandes figuras da literatura brasileira, como Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus foi esquecida pelo mercado editorial. Morreu em 13 de fevereiro de 1977, em sua casa, vítima de insuficiência respiratória em decorrência das crises de asma que a acometeram durante toda a vida.

“Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.”

1978 – Legado

Após a sua morte, a obra de Carolina novamente despertou interesse de editoras e estudiosos, o que levou à publicação póstuma, em 1977, de “Diário de Bitita”, um compilado de recordações de sua infância e juventude em Minas Gerais. Em 1982, foi publicado “Um Brasil para brasileiros” e, em 1996, “Meu estranho diário” e “Antologia pessoal”.

Recentemente, em 2014, as pesquisadoras Maria Nilda de Carvalho Motta e Raffaella Fernandez organizaram a coletânea “Onde estaes felicidade”, um compilado de textos inéditos da autora, além de 7 ensaios sobre sua obra. Em 2018, publicaram “Meu sonho é escrever – contos inéditos e outros escritos”, uma coletânea de 58 cadernos e 5000 páginas compostas por romances, poemas, peças de teatro e letras de marchas de carnaval.

Biografias sobre a autora também foram publicadas, entre elas “Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus” (1994), por José Carlos Meihy e Robert Levine; “Carolina Maria de Jesus – uma escritora improvável” (2009), de Joel Rufino dos Santos; e “Carolina: uma biografia” (2018), de Tom Farias.

Em 2014, foi lançado o Portal Bibliográfico de Carolina Maria de Jesus, uma organização da obra da autora que resultou do Projeto Vida por Escrito – Organização, classificação e preparação do inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, vencedor do Prêmio Funarte de Arte Negra.

Obras de Carolina Maria de Jesus

Alguns dos escritos de Carolina foram publicados no jornal, enquanto outros foram reunidos na primeira obra, “Quarto de despejo”, em 1960.

Em 1960, com o êxito da publicação do seu primeiro livro, Carolina pôde ver sua vida começar a melhorar. Mudou-se da favela no Canindé para o bairro de Santana, também na zona norte de São Paulo, onde escreveu outros dois livros: “Pedaços da fome” e “Provérbios”, que não tiveram o mesmo êxito do primeiro no mercado editorial.

Veja abaixo as principais obras da autora.

Livros

Impelida pela necessidade de escrever nos cadernos velhos suas impressões e sentimentos em relação à vida que levava, deu início a um registro de memórias que daria origem ao livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, obra que levaria seu nome à posição de destaque na literatura brasileira.

Quarto de despejo: diário de uma favelada

O livro é um retrato do cotidiano cruel vivido por Carolina enquanto moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Com realismo cru, são tratadas suas impressões sobre a pobreza e a fome, permeando seu ímpeto incontrolável de escrever.

  • Gênero: Memórias
  • Editora: Lionográfica, São Paulo, SP
  • Ano de publicação: 1960

Casa de alvenaria: diário de uma ex- favelada

Neste livro, Carolina Maria de Jesus traz novas perspectivas de sua vida, agora morando em uma casa feita de tijolos. Suas falas sobre a fome e a miséria agora cedem o lugar para novas surpresas, impressões, alegrias e desencantos da vida após o sucesso de seu primeiro livro.

  • Gênero: Memórias
  • Editora: P. de Azevedo, Rio de Janeiro, RJ
  • Ano de publicação: 1961

Pedaços da fome

No primeiro romance de sua autoria, Carolina conta a história de uma jovem branca e rica que mora no interior paulista e se casa com um homem branco considerado “de bem”. Em sua narrativa, experimenta as técnicas do gênero abordando temas como patriarcalismo e as desigualdades raciais e sociais.

  • Gênero: Romance/Novela
  • Editora: Editora Áquila, São Paulo, SP
  • Ano de publicação: 1963

Provérbios

Na obra, a autora traz aos leitores algumas reflexões por meio dos seus provérbios. É o último livro de Carolina publicado em vida.

Publicações póstumas

Diário de Bitita

A obra traz as memórias de infância de Carolina enquanto vivia em Sacramento, Minas Gerais. Faz um recorte da opressão e da injustiça social, do abuso de poder e do racismo que sempre permeou a realidade brasileira.

  • Gênero: Memórias
  • Editora: Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ
  • Ano de publicação: 1986

Meu estranho diário

O livro traz um desabafo solitário da autora em momentos diferentes de sua vida, representados no livro pelas mudanças sociais e geográficas que fez durante sua trajetória. Aborda também suas impressões pessoais sobre uma sociedade que não enxergava pessoas como ela.

  • Gênero: Memórias
  • Editora: Xamã, São Paulo, SP
  • Ano de publicação: 1996

Antologia pessoal

Organizado por José Carlos Sebe Bom Meihy, o livro traz poemas escritos por Carolina que trazem a mesma temática de suas outras obras em formato de versos.

  • Gênero: Poema / Antologia
  • Editora: UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
  • Ano de publicação: 1996

Onde estaes felicidade?

Lançada no ano do centenário de nascimento de Carolina Maria de Jesus, a obra traz dois textos ainda inéditos da autora da forma como foram escritos, sem interferências de revisão e correção de erros gráficos. O livro traz ainda uma seção de artigos e ensaios sobre suas memórias do cotidiano e um ensaio fotográfico sobre a favela.

  • Gênero: Contos / Memórias
  • Editora: Me Parió Revolução, São Paulo, SP
  • Ano de publicação: 2014

Meu sonho é escrever… contos inéditos e outros escritos

Organizado por Maria Nilda de Carvalho Motta e Raffaella Fernandez, a obra trata-se de uma coletânea de 58 cadernos e 5000 páginas compostas por romances, poemas, peças de teatro e letras de marchas de carnaval.

  • Gênero: Contos
  • Editora: Ciclo Contínuo, São Paulo, SP
  • Ano de publicação: 2018

Presença nos vestibulares

Nos últimos anos, a presença das análises da linguagem e da temática de Carolina Maria de Jesus têm sido marcantes, seja do ponto de vista da exploração de novos gêneros literários – nesse caso, no formato de diário, dividindo o destaque entre romances, contos, crônicas e poemas que tradicionalmente compõem as provas – ou da abordagem relativa ao contexto em que estão inseridos alguns grupos na sociedade compostos por mulheres negras periféricas e a realidade das favelas brasileiras, ainda tão presente nos dias atuais.

Em provas de Língua Portuguesa, existe uma tendência de se discutir as particularidades da linguagem oral, ou linguagem falada, e suas diferenças em relação à linguagem considerada “culta”, ou normativa padrão, observando relações com concordância verbo-nominal.

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Texto escrito por: PRAVALER
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