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Clarice Lispector: conheça vida e obras da escritora e jornalista Clarice Lispector: conheça vida e obras da escritora e jornalista

Clarice Lispector: conheça vida e obras da escritora e jornalista

Clarice Lispector é uma das mais famosas escritoras brasileiras. Décadas após sua morte, seus livros continuam suscitando diversas reflexões e trazendo à tona mistérios e questões filosóficas e existenciais. 

Quem não está habituado com o estilo pode estranhar no início. É preciso sair da zona de conforto para entender o estilo de Clarice. O fluxo de consciência, porém, proporciona uma experiência imersiva e reflexiva completamente diferente das usuais, afetando os leitores de maneiras particulares e íntimas.  

Quer aprender mais sobre a autora e sobre seus livros? É só continuar lendo! 

Quem foi Clarice Lispector?

Ao contrário do que muitos pensam, Clarice Lispector não nasceu no Brasil, mas sim na Ucrânia. A autora veio para o Brasil quando tinha apenas 2 anos, fugindo da perseguição aos judeus resultante da Guerra Civil Russa. No Brasil, morou em Recife (cidade com grande população judaica) e no Rio de Janeiro.

Clarice estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o objetivo de reformar as penitenciárias, mas já escrevia e dava aulas particulares de Matemática e Língua Portuguesa. Após seu interesse em Direito diminuir, a autora voltou-se para o Jornalismo e começou a tentar publicar seus contos.

A autora casou-se com Maury Gurgel Valente, que conheceu na Faculdade de Direito, e deu à luz a dois filhos: Pedro e Paulo. Pedro, seu primeiro filho, sofria com esquizofrenia. Em 1977, um dia antes de seu 57º aniversário, Clarice falece em decorrência de um câncer de ovário detectado tarde demais. 

Carreira literária

Clarice Lispector começou a escrever ainda na infância, aos 9 anos. Aos 13 anos decidiu ser escritora:

“Misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa, misturado com Dostoiévski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores. Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, O Lobo da Estepe, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais. Terminei rasgando e jogando fora.”

Mas foi aos 19 anos que teve seu primeiro conto publicado. Após conhecer Lúcio Cardoso, jornalista já respeitado no meio literário, passou a frequentar, por sua influência, o grupo de amigos literatos que se encontrava na Cinelândia (Rio de Janeiro): Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz, Otávio de Faria e Cornélio Pena. Clarice Lispector chegou a cultivar uma paixão platônica pelo amigo, mas não foi correspondida, já que Lúcio era homossexual.

Em 1944, publicou seu primeiro livro, “Perto do Coração Selvagem”, causando surpresa no público e na crítica por ser diferente de tudo já publicado antes. Fundindo poesia e prosa e utilizando o fluxo de consciência, os livros de Clarice não seguem a tradicional ordem cronológica “início, meio e fim”. Ainda hoje, poucos autores conseguem utilizar a linguagem da maneira que Clarice fazia. 

Prêmios e reconhecimentos

Por seu trabalho, Clarice Lispector conquistou diversos prêmios e honrarias. Confira as mais importantes: 

  • Prêmio Graça Aranha (1943)
  • Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1961)
  • Prêmio Jabuti (1961,1978)
  • Ordem do Mérito Cultural (2011)

Quais são as obras mais famosas de Clarice Lispector?

O estilo de Clarice Lispector é diferente de tudo que veio antes dela. Suas histórias não possuem começo, meio e fim e suas obras se passam principalmente no íntimo e psicológico de suas personagens. 

Muitas de suas obras tem como personagens principais mulheres. É o caso de Macabéa, protagonista de “A hora da estrela”, Joana, de “Perto do coração selvagem” e Virgínia, de “O lustre”. Apesar disso, a autora negava o título de “escritora feminista”.

A obra de Clarice pertence à terceira geração modernista (ou pós-modernista). Por isso, apresenta como características elementos como a estrutura não convencional, a metalinguagem, discussão de temas universais, fragmentação do texto e análise psicológica. 

Apesar disso, é possível dizer que a obra de Clarice não é igual a nada anterior a ela. A autora brinca com as palavras, inverte os sentidos, cria um dicionário apenas para si. Assim, um novo mundo é apresentado para o leitor – o mundo da linguagem de Clarice Lispector. 

Perto do coração selvagem (1942)

“Perto do coração selvagem”, publicado em 1942, é o primeiro livro publicado de Clarice Lispector. No livro, a vida de Joana, a personagem principal, é contada desde a infância até a idade adulta por meio de uma fusão entre presente e passado. O nome da obra foi sugestão de seu grande amigo, Lúcio Cardoso. 

Laços de família (1960)

O livro contém 13 contos, todos abordando, no meio do cotidiano, grandes questões filosóficas e existenciais. A coletânea se liga por um único tema: os desentendimentos familiares. 

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969)

“Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, publicado em 1969, é o sexto romance de Clarice Lispector e aborda o romance entre Ulisses e Lóri. O livro, porém, vai além, e retrata o aprendizado do amor, e, por que não?, da vida, de maneira existencialista e a partir do ponto de vista feminino. 

Água viva (1973)

“Água viva” talvez seja o livro de Clarice Lispector que cause mais estranhamento ao leitor. A linguagem é explorada em seus limites e, recheada de metáforas e subjetividade, assemelha-se ao processo da pintura. Confira um trecho do livro:

“Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor-a-ti é abstrato como o instante. É também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro. Quando vieres a me ler perguntarás por que não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tão tosco e sem ordem. É que agora sinto necessidade de palavras – e é novo para mim o que escrevo por que minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é minha quarta dimensão.”

A hora da estrela (1977)

“A hora da estrela” se consagra como a obra mais famosa de Clarice, e a última que escreveu, pouco antes de sua morte. O romance narra a história de Macabéa, que migra de Alagoas para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. Lá, vive às voltas com culturas novas e novos personagens. Macabéa busca ser feliz, mas encontra obstáculos.  

Livros de Clarice Lispector

Clarice Lispector publicou romances, contos, crônicas, literatura infantil e correspondências. Também foram incluídos na lista de obras publicadas suas entrevistas e artigos de jornais. Confira: 

  • Perto do coração selvagem (1943)
  • O lustre (1946)
  • A cidade sitiada (1949)
  • A maçã no escuro (1961)
  • A paixão segundo G.H. (1964)
  • Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969)
  • Água viva (1973)
  • A hora da estrela (1977)
  • Um sopro de vida (1978)
  • Alguns contos (1952)
  • Laços de família (1960)
  • A legião estrangeira (1964)
  • Felicidade clandestina (1971)
  • Onde estivestes de noite (1974)
  • A via crucis do corpo (1974)
  • A bela e a fera (1979)
  • O mistério do coelho pensante (1967)
  • A mulher que matou os peixes (1968)
  • A vida íntima de Laura (1974)
  • Quase de verdade (1978)
  • Como nasceram as estrelas (1987)
  • Para não esquecer (1978)
  • A descoberta do mundo (1984)
  • Correspondências (2002)
  • Minhas Queridas (2007)
  • Entrevistas (2007)
  • Outros Escritos (2005)
  • Correio Feminino (2006)
  • Só para Mulheres (2006)

As obras de Clarice abordam questões existenciais, filosóficas, sociais e psicológicas. São marcadas pelo fluxo de consciência, estratégia percebida em obras de autores como Virginia Woolf e James Joyce. Outra grande autora brasileira que também fazia uso da técnica é Hilda Hilst.

O fluxo de consciência é uma técnica narrativa que busca representar os processos mentais e psicológicos em constante mudança na literatura. O objetivo é apresentar o mundo psíquico da personagem, coisa que só pode ser feita mergulhando dentro dele. Assim, em obras marcadas pelo fluxo de consciência, o mais importante não são os acontecimentos exteriores, mas sim os interiores, que se passam dentro da mente da personagem principal. 

Por isso, em obras que fazem uso da técnica, há a perda da sequência lógica e temporal usual e espaço e tempo se misturam. Afinal, quando pensamos, não pensamos com início, meio e fim, certo?

Para representar o fluxo de consciência, é comum que a linguagem seja fluida, como um pensamento, com pouca pontuação e estruturação de parágrafo e uma certa ruptura com a sintaxe. É comum também que narrador e personagem se confundam e que certas marcações do inconsciente apareçam, trazendo até mesmo elementos sem sentido para a narração.

A obra da autora traz diversos momentos de epifania, diferentes para cada leitor. Na falta de acontecimentos externos marcantes, o interno desperta diversas epifanias que fazem o leitor sentir, se descobrir, refletir e nunca mais voltar a ser o mesmo. 

É por isso que, ainda hoje, diversos estudiosos seguem analisando as obras da autora profundamente. Ainda há muito material para ser produzido, interpretado e analisado à luz da sociedade atual. Afinal, a época e o leitor faz a obra. A partir de novas leituras, novas interpretações e sentidos são encontrados. 

Poemas de Clarice Lispector

Clarice também publicou poesias, fundido prosa e poesia em textos repletos de lirismo. Veja algumas: 

Precisão

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Alma luz

Minha alma tem o peso da luz
Tem o peso da música
Tem o peso da palavra nunca dita,
Prestes quem sabe a ser dita
Tem o peso de uma lembrança
Tem o peso de uma saudade
Tem o peso de um olhar
Pesa como pesa uma ausência
E a lágrima que não chorou
Tem o imaterial peso de uma solidão
No meio de outros

Frases de Clarice Lispector

Confira frases marcantes de Clarice Lispector, encontradas em suas obras, entrevistas e cartas.

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.”

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

“E umas das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida.”

“Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”

“Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio.”

“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas.”

Mas quero ter a liberdade de dizer coisas sem nexo como profunda forma de te atingir. Só o errado me atrai, e amo o pecado, a flor do pecado.”

“O medo sempre me guiou para o que eu quero. E, porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado.”

“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”

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Agora que você sabe tudo sobre Clarice Lispector, leia também sobre:

Texto escrito por: PRASABER
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