

Marília de Dirceu: a obra de Tomaz Antônio Gonzaga
Você sabe quem foi Tomaz Antônio Gonzaga? O português foi um importante escritor e representante do movimento arcadismo. O escritor também viveu no Brasil e em Moçambique. Sua principal obra é “Marília de Dirceu”, cobrada na lista de leituras obrigatórias do vestibular da Fuvest.
Apesar de sua produção literária não ter sido extensa, Tomaz Antonio Gonzaga ainda hoje é conhecido como um dos maiores autores de Portugal e do mundo. Nascido em 1744, o autor deixou um legado que ainda hoje intriga pesquisadores e leitores ao redor do mundo.
Quer saber mais sobre sua principal obra, Marília de Dirceu?
Então é só continuar lendo este artigo!
Neste artigo você vai encontrar:
O que retrata a obra de Marília de Dirceu?
O livro “Marília de Dirceu” é, na verdade, um longo poema lírico, a obra mais emblemática de Tomaz Antônio Gonzaga. Publicado em 1972 em Lisboa, a obra pertence ao arcadismo e trata do amor idealizado entre Dirceu e Marília, impedido pela perseguição da Inconfidência Mineira, que levou o personagem principal preso (assim como o autor, que foi exilado em Moçambique graças a seus posicionamentos políticos).
Na época, era comum escrever sob pseudônimos e o pseudônimo do autor era “Dirceu”. Por isso, o título se refere a Marília, a sua amada. A obra é um diálogo de Dirceu para com Marília, mas a resposta da amada não é encontrada e o romance não teve um final feliz, já que, além de não ter a aprovação dos pais de “Marília”, os personagens também foram separados geograficamente. É possível perceber, portanto, que o poema é uma declaração de amor do próprio autor para sua amada.
A obra prima de Tomás Antônio Gonzaga foi dividida em três partes. A primeira parte é composta por 33 liras, de tom bucólico e idealizador, onde ele fala de sua devoção por Marília de Dirceu. Leia um trechinho do poema:
“A minha Marília quanto
À natureza não deve!
Tem divino rosto
E tem mãos de neve.
Se mostro na face o gosto,
Ri-se Marília, contente:
Se canto, canta comigo;
E apenas triste me sente,
Limpa os olhos com as tranças
De fino cabelo louro.
A minha Marília vale,
Vale um imenso tesouro.”
A segunda parte é composta por 38 liras. A segunda parte do poema foi escrita enquanto Tomaz Antônio Gonzaga estava preso. Por isso, é possível perceber um tom melancólico e desesperançoso, enquanto o autor retratava o que vivia.
“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados.”
Já a terceira parte da obra é composta por nove liras, 14 sonetos e uma ode. Na terceira parte, Dirceu se despede de sua amada.
“Parto, enfim, Dirceia bela,
Rasgando os ares cinzentos;
Virão nas asas dos ventos
Buscar-te os suspiros meus.
Ah! não posso, não, não posso
Dizer-te, meu bem, adeus!”
Por que Marília de Dirceu é importante?
Além da notável qualidade literária e grande marco do arcadismo, Marília de Dirceu também é um testemunho político da época. No Brasil, iniciava-se o movimento da Inconfidência Mineira, em resposta aos excessos de Portugal para com a colônia. O movimento, porém, era tratado por Portugal como rebelde, já que tinha como objetivo a proclamação de uma república independente. Durante a Inconfidência, grande parte da elite brasileira, incluindo Tomaz Antônio Gonzaga, colocou em xeque a autoridade de Portugal e conspirou para depor o país.
“Marília de Dirceu” é, então, um testemunho do contexto político da época, as opiniões e comportamentos dos inconfidentes e um grande estudo sobre a qualidade de vida dos brasileiros na época. Por meio da obra árcade, é possível entender bastante sobre esse movimento tão importante para a história de Minas Gerais, do Brasil e de Portugal.
O que é Arcadismo?
A obra “Marília de Dirceu” é uma grande representante do arcadismo, movimento literário que sucedeu o barroco. Já Tomaz Antônio Gonzaga, é, por consequência, um grande representante da escola.
Entre as características presentes no arcadismo, estão o bucolismo, o movimento pastoril, a paixão pela natureza e o equilíbrio. Além disso, há a idealização da mulher amada, linguagem simples e acessível e uma constante crítica à vida da cidade. A poesia árcade motiva e inspira os leitores a buscar por uma vida equilibrada e tranquila, longe da vida agitada da cidade.
Entre representantes do movimento, estão Cláudio Manoel da Costa, Santa Rita Durão e, claro, Tomaz Antônio Gonzaga. É do arcadismo a origem de termos em latim que se popularizaram pela defesa da vida simples e no campo. Entre eles, estão “carpe diem”, “fugere urbem” e “inutilia truncat” (“aproveite o dia”, “fugir da cidade” e “eliminar o inútil”, respectivamente.
Quais são os personagens de Marília de Dirceu?
Confira os principais personagens da obra:
- Alceste ou Glauceste (pseudônimo para Cláudio Manuel da Costa)
- Alceu (pseudônimo para Alvarenga Peixoto)
- Cupido
- Dirceu (pseudônimo para Tomás Antônio Gonzaga)
- Eulina
- Laura
- Marília
- Vênus
Quem foi Marília de Dirceu na vida real?
Como já se sabe, Tomaz Antônio Gonzaga, além de ter morado em Portugal, também residiu no Brasil. No país, o autor trabalhou como Ouvidor dos Defuntos e Ausentes na comarca de Vila Rica (atual Ouro Preto), onde conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, com quem se casou.
O casamento, porém, não foi bem recebido pelos pais de Maria Doroteia, pela diferença de idade e posses, já que o autor não tinha as mesmas condições financeiras que a esposa. Além disso, Tomaz Antônio Gonzaga foi posteriormente exilado em Moçambique, graças ao seu envolvimento com o movimento rebelde Inconfidência Mineira. Por isso, o autor e sua primeira esposa foram separados para sempre. Até hoje, suspeita-se que Marília de Dirceu é, na verdade, Maria Doroteia.
Alguns teóricos, porém, defendem que o autor não escreveu o poema para sua primeira esposa, mas sim para uma mulher idealizada e fictícia. Os argumentos que defendem essa teoria são a mudança da descrição de Marília durante toda a lira e o fato de que na era árcade não era comum escrever sobre emoções e relacionamentos, como passou a ser na época do romantismo e posteriormente.
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Texto escrito por: Prasaber