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Realismo: contexto histórico, características e autores

As escolas literárias ainda são temas recorrentes nas provas dos vestibulares em todo o país, principalmente no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), no caderno de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Pensando nisso, e sempre tentando facilitar a sua jornada de estudos, montamos um artigo completo sobre o Realismo, uma das escolas da literatura mais importantes tanto no Brasil como em Portugal.

Ficou interessado no assunto? Continue com a gente e confira!

O que é Realismo?

Tendo a sua origem nas últimas décadas do século XIX, marcada pelo romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857, o Realismo foi um movimento literário, histórico e cultural com ideais opostos ao do Romantismo, escola anterior. Sendo assim, os realistas abandonaram as emoções, o lirismo e a subjetividade antes bastante presentes na literatura e passaram a dar espaço às escritas com linguagem direta e objetiva, à temática social e à crítica aos costumes da época.

Sentindo a necessidade de retratar a vida como ela era de fato, escancarar os problemas e os costumes das classes média e baixa e trazer a reflexão à tona, os integrantes do Realismo não se inspiraram em modelos passados de literatura, já que a temática era mais importante que a forma de dizer, e manifestaram-se também em aspectos sociais, na arte, da música, na escultura e na pintura.

Contexto histórico do Realismo

Saber o que se acontecia no mundo na época é imprescindível para a compreensão dos movimentos literários, principalmente do Realismo, que teve o seu início na Europa no século XIX.

Nesse período, os países europeus passavam pela Segunda Revolução Industrial, período de bastante movimentação cultural, social e política. A época também foi marcada pelo pensamento científico, tecnológica e filosófico, que se traduzem nas escritas e nas esculturas.

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Vale ressaltar que a ciência estava em auge no século XIX, principalmente na Europa, com o surgimento do telégrafo, da luz elétrica, da locomotiva e do telefone. Além disso, algumas novidades, como a revolução de Pasteur, a Teoria Evolucionista, de Charles Darwin, e a Teoria Positivista, de Auguste Comte, também foram grandes marcos do período. Tais ideias surgidas, no entanto, propunham que os fenômenos e os eventos sociais fossem analisados de maneira exata, levando sempre em consideração a ciência.

Realismo na Europa

Na Europa, o Realismo foi consolidado como um movimento literário após a publicação, na França, da obra Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert. Tal livro causou muita discórdia na época, uma vez escancarava os costumes da burguesia e as problemáticas sociais, temas antes encobertos pelas emoções e pelo lirismo presentes na literatura até então. Além disso, Flaubert também trouxe à tona o casamento como instituição falida, o jogo de sedução e o adultério, massacrando o ideal do amor romântico.

Já em Portugal, o movimento teve início em 1865, com a Questão Coimbrã – entrave entre literários da época que representou uma nova forma de escrever, trazendo à literatura aspectos da renovação e de ideais que surgiram em torno das questões científicas. A briga se deu entre o romancista Feliciano de Castilho e o realista Antero de Quental. O primeiro criticou fortemente a poesia do segundo, dizendo que a nova geração carecia de bom gosto e senso estético.

Em carta aberta, Antero de Quental respondeu escrevendo sobre a liberdade de expressão e os ideais do novo movimento, o Realismo, dando-se por vencido. A Questão Coimbrã funcionou como um marco literário, já que as estéticas realistas tomaram conta das obras a partir de então e a escola foi abrangendo cada vez mais escritores.

Realismo no Brasil

Enquanto o movimento realista na Europa era baseado em ideais trazidos pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial, que já estava na segunda fase, aqui no Brasil o processo de industrialização foi mais lento, já que passávamos pelo entrave do colonialismo e da mão-de-obra escrava, que ainda se mantinham na política do Segundo Reinado.

Tal período histórico, entretanto, foi crucial para o surgimento dos escritores realistas brasileiros, que eram republicanos e defendiam a abolição da escravatura, tema bastante presente em suas obras. Os autores do realismo brasileiro recebiam influência direta das escritas europeias e mantinham as características em seus escritos, tais como: a linguagem objetiva, a crítica social (principalmente as contradições e moralismos da burguesia), a ironia como marca retórica e descrições minuciosas psicológicas das personagens.

Os principais autores do Realismo no Brasil são: Aluísio Azevedo – maranhense e autor da obra O Cortiço (1890), Machado de Assis – um dos maiores escritores da literatura brasileiro e criador de Dom Casmurro (1899), obra célebre e ainda cobrada por diversos motivos nos vestibulares e – autor da obra célebre O Ateneu (1888).

Realismo na literatura

Como já falado anteriormente, o Realismo trouxe grandes marcas para a literatura, uma vez que representou o corte com o Romantismo, classe literária anterior. Dessa forma, os escritores realistas buscaram deixar de lado o lirismo, e emoção e o sentimentalismo, e passaram a demostrar a realidade de forma concreta, sem subjetivismo e idealizações.

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Dessa forma, temáticas do âmbito social, político e cultural foram bem exploradas pelos autores desse período, tratando do cotidiano, das relações humanas de forma direta e de problemas socioculturais. Por não conter muito lirismo, a poesia não foi o grande destaque da fase, deixando esse cargo para a prosa realista, que tinha o intuito de denunciar e criticar principalmente os valores da burguesia, a extrema pobreza, as diferenças sociais, a falsidade, a fraqueza humana, o adultério, o egoísmo etc.

Para que isso fosse possível, os autores utilizaram técnicas de linguagem para a descrição mais direta possível dos cenários e das personagens, revelando aspectos realistas da sociedade e características minuciosas das personagens, como os seus traços psicológicos além dos físicos – o que é muito visto nas obras de Machado de Assis, por exemplo.

Realismo no teatro

Apesar do enfoque principal do movimento realista ser a literatura, as características desse período também permearam outras artes, como o teatro. Os fundamentos, as ideias e as características de mantém os mesmos na dramaturgia, o que diferencia é a maneira como o texto chega até o seu público.

Assim como na literatura, no teatro realista as personagens também são mais comuns, tratados como alguém do cotidiano, quebrando com o estigma do herói romântico, por exemplo. Além disso, o tema é sempre sobre engajamento, abordando os problemas sociais e políticas. A linguagem também é mais direta, objetiva, e foge do lirismo exacerbado e da fala rebuscada encontradas nas peças românticas.

Alguns exemplos de grandes dramaturgos importantes para o teatro realista foram: Alexandre Dumas (1824-1895), com a famosa A Dama das Camélias; Henrik Ibsen (1828-1906), com a peça Casa de Bonecas; e o russo Gorki (1868-1936), com o drama realista Ralé e os Pequenos Burgueses.

Realismo na escultura

Já na escultura, as obras realistas ficaram famosas por carregarem detalhes minuciosos, como os traços, proporcionando maior realidade para a escultura e expressando todos os nuances do momento. As esculturas, portanto, exprimem sofrimento, tristeza, alegria, reflexão e demais sentimentos como uma fotografia ou presença real.

O escultor Auguste Rodin (1940-1917) foi o maior representante dessa arte e ficou conhecido por representar os seres de maneira objetiva, tais como eles realmente são – entre as principais características das esculturas, estão: a valorização dos gestos, as expressões humanas e temáticas sociopolíticas e culturais.

Realismo na arquitetura

Influenciados pela Revolução Industrial, os arquitetos e engenheiros realistas propuseram projetos que se adequassem às novas necessidades urbanas. Como as cidades não mais exigiam grandes palácios e templos, era preciso focar em construção de fábricas, ferroviárias, armazéns, estações, hospitais, moradias escolas etc., tanto para a nova burguesia como para os operários das fábricas.

Dois marcos foram importantes para a arquitetura realista. Em 1850, Joseph Paxton idealizou o Palácio de Cristal em Londres, onde ocorreu a 1ª Feira Mundial da cidade, e pode mostrar todas as possibilidades estéticas ao utilizar ferro fundido.

O outro marco é nada mais nada menos que a construção da Torre Eiffel, em 1889, projetada por Gustavo Eiffel – hoje, o principal ponto turístico de Paris, na França. A torre é um verdadeiro triunfo da engenharia realista e moderna, esbanjando todo um esqueleto de aço e ferro, exterminando qualquer alusão aos projetos arquitetônicos de outros movimentos passados.

Realismo na pintura

Outra arte bastante influenciada pelo Realismo foi a pintura, sem dúvidas. Os pintores do movimento realista tinham por finalidade fazer a retratação da realidade das pessoas da forma mais objetiva e concreta possível, quebrando com a estética ideal das escolas anteriores.

Diferente do Romantismo, escola que valorizava sentimentos aflorados, o Realismo trouxe a valorização de espaços e o homem passou a não representar mais o centro das narrativas. Dessa forma, as pinturas realistas contam com bastante paisagens e retratos, com cores sóbrias e pinceladas livres, originando uma representação nítida da realidade.

Alguns pintores também se destacaram nessa época, entre eles: Jean-François Millet, Honoré Daumier, Édouard Manet e Gustavo Courbet.

Principais características do Realismo

  • Descrições de situações sociais;
  • Valorização da narração de fatos objetivos e concretos;
  • Quebra com a idealização do Romantismo, relatando fracasso social, miséria e adultério;
  • Narrativa impessoal, sem interferências do autor;
  • Priorização da prosa realista e contos;
  • Críticas às classes dominantes, à hipocrisia e aos costumes da nova burguesia;
  • Aceitação e descrição da realidade tal como ela é;
  • Ideais teóricos, usando as ciências exatas como referência;
  • Abordagem psicológica das personagens;
  • Correção e clareza na linguagem;
  • Narrativa lenta e reflexiva.

Principais autores do Realismo no Brasil

Aluísio Azevedo


Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu no Maranhão, em São Luís, no dia 14 de abril de 1857, onde completou os estudos secundários. Aos 17 anos, foi morar no Rio de Janeiro, junto com o seu irmão, e ingressou os estudos na Academia Imperial de Belas-Artes, em 1876. Além de grande escritor e jornalista, Aluísio também foi desenhista e trabalhou com caricatura para alguns jornais carioca. Após a morte do seu pai, em 1878, ele retornou para o Maranhão, onde se dedicou exclusivamente à literatura, ajudando no sustento da família. Seu falecimento se deu no ano de 1913, em Buenos Aires, na Argentina.

Vale lembrar que, apesar de escrever obras realistas, Aluísio Azevedo é considerado um autor do movimento Realista-naturalista, período de intermeio entre as duas escolas literárias. Dessa forma, ele apresenta em seus livros tanto características marcantes do Realismo, como do Naturalismo.

Obras

  • Uma lágrima de mulher (1879);
  • Os doidos (1879);
  • O mulato (1881);
  • Memórias de um condenado (1882);
  • Mistérios da Tijuca (1882);
  • A flor de Lis (1882);
  • A casa de orates (1882);
  • Casa de pensão (1884);
  • Filomena Borges (1884);
  • O coruja (1885);
  • Venenos que curam (1886);
  • O caboclo (1886);
  • O homem (1887);
  • O cortiço (1890);
  • A República (1890);
  • Um caso de adultério (1891);
  • Em flagrante (1891);
  • Demônios (1893);
  • A mortalha de Alzira (1894);
  • O livro de uma sogra (1895);
  • Pegadas (1897);
  • O touro negro (1898).

Raul d’Ávila Pompeia


Nascido em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, em 12 de abril de 1863, Raul d´Ávila Pompeia viveu na cidade até os dez anos e, depois, mudou-se com a família para a capital carioca. Lá, foi matriculado em um colégio interno e, desde muito cedo, já apresentava gosto pela literatura.

Mesmo no colégio, já escrevia para o jornal interno, chamado O Archote. Porém, sua crítica e comentários fizeram com que ele fosse transferido para outra escola, o Colégio Imperial Dom Pedro II, onde desenvolveu seus dotes de escrita e publicou o seu primeiro romance, chamado Uma tragédia no Amazonas, em 1880.

Estudou Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, na USP, época em que já defendia direitos abolicionistas e atuava no movimento republicano, e terminou o curso no Recife, mas nunca chegou a atuar na profissão. Foi reconhecido pelas suas críticas jornalísticas, crônicas, contos e folhetins – o que sempre lhe causou problemas na vida pessoal decorrente dos seus pensamentos.

Em 25 de dezembro de 1895, no Rio de Janeiro, Raul comete suicídio, vítima de uma profunda depressão, aos 32 anos de idade.

Obras

  • Uma tragédia no Amazonas (1886);
  • A queda do governo (1880);
  • Microscópios (1881);
  • As joias da Coroa (1882);
  • O Ateneu (1888);
  • Alma morta (1888);
  • Agonia (1895) – romance não finalizado.

Machado de Assis


Considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. De família muito humildade, mulato e vítima de preconceito pela cor da pele, foi criado pela madrasta por ser perdido a mãe muito cedo.

Ainda na infância, estudando na escola pública, aprendeu francês e latim, o que despertou o seu gosto pela escrita. Atuou como tipógrafo, revisor e funcionário público. Também trabalhar em algumas revistas e jornais do Rio de Janeiro e publicou o seu primeiro poema na revista Marmota Fluminense, intitulado Ela.

Machado de Assis tem as suas obras divididas entre o Romantismo, primeira fase, e o Realismo, segunda fase. Na primeira, o autor trabalhou com as características românticas, tendo como foco principal temático o amor e os relacionamentos. Já durante o movimento realista, o autor passa a escrever sobre questões psicológicas das personagens, fazendo análise profunda e muito objetiva do ser humano, detalhando qualidades, defeitos, vontades, angústias, necessidades etc.

Vítima de um câncer, o autor faleceu em 1908, na cidade do Rio de Janeiro. Sua obra, entretanto, ainda é considerada célebre e consagrada em todo o mundo.

Obras

  • Ressurreição (1872);
  • A mão e a luva (1874);
  • Helena (1876);
  • Iaiá Garcia (1878);
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881);
  • Quincas Borba (1891);
  • Dom Casmurro (1899);
  • Esaú e Jacó (1904);
  • Memorial de Aires (1908).

Visconde de Taunay


Outro autor bastante conhecido do movimento realista é Alfredo Maria Adriano d´Escragnolle Taunay, ou só Visconde de Taunay, nasceu em 22 de fevereiro no Rio de Janeiro. Foi professor, político, romancista, teatrólogo, engenheiro militar, biógrafo, etnólogo e memorialista. O autor faleceu também na capital carioca, em 25 de janeiro de 1899.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letra e o primeiro e único Visconde de Taunay, título dado por Dom Pedro II, em 1889. Durante a sua trajetória na literatura, se destacou no Realismo, com romances regionalistas e que retratavam a realidade local, assim como os moradores e todo o contexto social envolvido, sendo Inocência (1872) a sua principal obra.

Obras

  • Mocidade de Trajano (1870);
  • Inocência (1872);
  • Lágrimas do coração (1873);
  • Histórias brasileiras (1874);
  • Da mão à boca se perde a sopa (1874);
  • Ouro sobre azul (1875);
  • Narrativas militares (1878);
  • Por um triz coronel (1880);
  • Céus e terras do Brasil (1882);
  • Estudos críticos (1881 e 1883);
  • Amélia Smith (1886);
  • O encilhamento (1894);
  • No declínio (1899);
  • Reminiscências (1908);
  • Trechos de minha vida (1911);
  • Viagens de outrora (1921);
  • Visões do sertão (1923);
  • Dias de guerra e do sertão (1923).

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Texto escrito por: PRAVALER
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