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Maria Firmina dos Reis: tudo sobre a primeira romancista do Brasil Maria Firmina dos Reis: tudo sobre a primeira romancista do Brasil

Maria Firmina dos Reis: tudo sobre a primeira romancista do Brasil

Quem está se preparando para prestar um vestibular ou até mesmo estudando para um concorrido concurso público, já deve ter ouvido falar de Maria Firmina dos Reis. Negra e nordestina, foi a primeira mulher a publicar um romance no Brasil, em uma época onde a escravidão ainda era realidade no país.

Uma das escritoras que deu o ponta pé inicial para a literatura afro-brasileira, Maria Firmina é uma figura de grande importância dentro da nossa história, por isso, suas obras estão constantemente presentes em avaliações, como o Enem ou vestibulares, por exemplo.

Precisa se aprofundar ou tem curiosidade de conhecer a trajetória de Maria Firmina dos Reis? Preparamos um artigo que conta todos os passos dessa grande escritora para conquistar seu espaço na história literária do país.

Quem foi Maria Firmina dos Reis?

Em 1822 nascia, em São Luís do Maranhão, quem seria a primeira romancista brasileira que quebraria os principais paradigmas e estereótipos do século XIX. Maria Firmina dos Reis era mulher negra que, com muito sacrifício, se tornou professora e, em seguida, grande escritora de romances.

Maria se destacou não só pela sua origem, mas também por começar sua trajetória na literatura brasileira dando voz aos que, na época, eram obrigados a se manterem calados: os escravos. Sua primeira publicação aconteceu em 1869, com o romance abolicionista Úrsula, obra protagonizada por personagens escravizados que relata os dias árduos e de crueldades da elite da época.

Com sua visão desafiadora e se posicionando contra a escravatura, Maria Firmina inaugurou aquilo que chamamos hoje de literatura afro-brasileira. Tais contos relatavam a história a partir do ponto de vista dos negros, apresentando os escravos como figuras verdadeiramente humanizadas, o que não acontecia em romances escritos pelos reconhecidos autores brancos daquele tempo.

Com grandes obras publicadas, causou furor na população maranhense e nacional, isso porque lutou incansavelmente pela educação gratuita e irrestrita no Brasil, além de contribuir para o surgimento do movimento abolicionista.

1822 a 1846 – Nasce a romancista

Maria Firmina dos Reis nasceu em 11 de março de 1822, na Ilha de São Luís, Maranhão, mas foi batizada apenas em 21 de dezembro de 1825. Fruto de um relacionamento extraconjugal entre Leonor Felippa dos Reis e pai desconhecido tornou-se órfã aos 5 anos de idade e, por esse motivo, mudou-se para São José de Guimarães, em Viamão, para viver com sua tia materna.

Com a boa condição familiar de sua tia, Maria teve fácil acesso a boa educação e literatura desde cedo. Prima do popular gramático Sotero dos Reis, frequentou escolas conceituadas da região, fato incomum para uma mulher negra nascida no século XIX.

1847 a 1861 – Formação, carreira e polêmicas

Com 25 anos e formada em pedagogia, prestou concurso, foi aprovada e, em 1847 se tornou a primeira professora negra a ocupar a Cadeira de Instrução Primária de Guimarães, no Maranhão.

Apesar de conquistar posições jamais imaginadas para uma pessoa com seu perfil, Maria sofreu com os preconceitos existentes, já que era mulher negra em posição de educadora em uma época escravista. No entanto, a professora não se deixou abater e, além de se destacar pela qualidade no ensino, fundou a primeira escola mista – para meninos e meninas – totalmente gratuita do Estado do Maranhão.

Com o grande alvoroço instalado, a escola mista permaneceu aberta por apenas três anos. Apesar disso, com a conquista de respeito no meio educacional e reconhecida por grandes intelectuais, Maria Firmina conseguiu o tão esperado espaço para fazer sua primeira publicação literária. “Úrsula” ganhou espaço no mercado de literatura em 1859 e apresenta a visão de uma escrava diante da situação da população negra no século XIX. Tal obra foi um marco na história do país, isso porque deu início ao movimento literário afro-brasileiro, antes nunca explorado, e foi um ponta pé para promover a abolição da escravatura no Brasil.

Com sua primeira obra popularizada, Maria Firmina seguiu na carreira de escritora e lançou seu segundo conto, chamado “Gupeva”. Lançado em 1861, a narrativa de conto indiano ganhou destaque e foi publicado em 3 jornais do Maranhão.

Últimos anos da romancista

O grande sucesso da escritora, Maria Firmina seguia na luta contra a escravidão e educação igualitária. Após suas duas maiores obras publicadas, decidiu escrever “Cantos à Beira Mar”, uma reunião de poesias marcadas pela forte inquietação subjetividade feminina diante da realidade oitocentista marcada pelos ditames do patriarcado escravocrata.

E foi em 1887 que Maria lançou sua terceira grande criação literária, o conto “A Escrava”. Com grande apelo a favor da abolição da escravatura, a obra conta a história de uma mulher de classe alta que teve participação ativa no movimento abolicionista. No auge da luta contra a escravidão, a produção ganhou destaque em um importante canal de comunicação da época, a Revista Maranhense.

Depois ter seus livros de romance publicados, Maria Firmina se deparou com um cenário nunca visto antes. Mulher negra, nordestina, solteira, reconhecida por toda a academia literária e autossuficiente. Nos anos seguintes, contribuiu com a publicação de poesias, crônicas, contos e ficção em jornal e revistas populares da época. Além disso, foi personagem fundamental para a preservação da literatura oral, na tradição de contar histórias, também contribuiu ativamente para a composição do hino da abolição da escravatura.

Depois de todos os seus feitos e representatividade diante da luta da população negra e da luta das mulheres para uma sociedade mais igualitária, Maria Firmina dos Reis faleceu em meados de 1917, aos 95 anos, com problemas de visão agravados, baixo poder aquisitivo e com muitos documentos de arquivo pessoal – como produções e retratos – perdidos.

1960 a 2017 – Legado

Pouco antes de sua morte, as obras de Maria Firmina acabaram caindo no esquecimento. Isso porque sua insistência em relatar as crueldades vividas pelos escravos não eram bem vista pela sociedade elitista majoritária da época.

Foi em meados de 1960 que um historiador encontrou a primeira grande obra de Maria Firmina, “Úrsula”, e decidiu trazer de volta aos holofotes da literatura. Em tempos onde a escravidão foi abolida, o conto ganhou novamente grande destaque, mas, dessa vez, permaneceu em alta até os dias de hoje.

Em 1975, o biógrafo José Nascimento Morais Filho decidiu contar a história de Maria Firmina. Com o nome “Maria Firmina: fragmentos de uma vida”, a obra de José conta os passos da romancista, no entanto, sugere a falta de detalhes da vida de Maria justamente pela sua ousadia em enfrentar uma sociedade escravista e preconceituosa.

No ano de 2017, no centenário da morte de Firmina, suas obras foram relançadas para o mercado literário, dessa vez, através de publicações da Academia Ludovicence de Letras, de São Luís, pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler. E foi nesse mesmo ano que a estudiosa lançou a produção “Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor”, com documentos e informações até então inéditas, como a verdadeira data de nascimento da escritora e a condição social de sua mãe, que foi uma escrava alforriada que pertenceu ao Comendador Caetano José Teixeira.

Desde então, o nome de Maria Firmina passou a estar presente em importantes ambientes educacionais, como vestibulares, provas de concursos públicos e nas aulas de ensino médio.

Obras de Maria Firmina

Independente da obra, Maria Firmina sempre fez questão de usar a literatura como instrumento de luta contra os males da escravidão e dos abusos contra as mulheres naquela época. Dentre suas produções, estão:

Livros

Todos os contos publicados tiveram grande repercussão e dividiu opiniões. Isso porque a posição de Maria Firmina, em tempo onde a elite branca era maioria e intocável, foi considerada por muitos como inadequada e afrontosa. No entanto, tais críticas não evitaram o grande sucesso das obras, uma vez que elas exploraram uma outra visão da época.

Úrsula

Primeiro romance publicado pela escritora em 1859 com o pseudônimo “uma maranhense”, a obra retrata um triângulo amoroso típico entre pessoas de classes sociais completamente diferentes: Úrsula, jovem simples, Tancredo, bacharel da nobreza e bem apessoado, e tio de Úrsula, vilão sem escrúpulos. No entanto, ao decorrer da narrativa, o que se destaca é a forma que o Brasil foi descrito por uma sociedade até então silenciada pela escravidão: os negros. Túlio, Susana e Antero foram os três personagens negros que questionaram a real identidade do país e trouxeram à tona o problema central para a construção dessa identidade, que é a crueldade e miséria vivida pelo povo negro para servir a nobreza branca.

  • Gênero: Romance / Novela
  • Editora: Tipografia do Progresso
  • Ano de publicação: 1859

A Escrava

Narrativa curta publicada em 1887, na Revista Maranhense, a história da obra se passa em um salão onde a nobreza discute temas diversos, até que o assunto da discussão passa a ser o elemento servil da época. Nesse momento, uma senhora toma a palavra e narra a trágica história de uma escrava em fuga chamada Joana, contando as condições subumanas vividas pelos escravos e as violências obscuras que cercavam as mulheres daquele contexto.

  • Gênero: Contos
  • Periódico: Revista Maranhense [1887], São Luís, MA
  • Ano de publicação: 1887

Gupeva

Publicado em 1861, no então periódico semanal O Jardim das Maranhenses, a produção trata de um romance entre o povoado indígena. Gupeva é um índio de uma tribo localizada na Bahia e se casa com uma jovem abandonada pelo amado, que se apaixonou e engravidou de um nobre francês. No parto, a jovem morre e Gupeva decide criar a criança, chamando-a de Épica, mesmo nome da mãe. Com o passar dos anos, Épica segue os passos da mãe e se apaixona por um marinheiro francês de origem nobre. A narrativa percorre um caminho longo de intensa discussão sobre incesto e miscigenação entre franceses e indígenas.

  • Gênero: Romance ou novela
  • Periódico: O Jardim das Maranhenses — Periódico semanário literário, moral, crítico e recreativo, São Luís, MA
  • Ano de publicação: 1861

Cantos à Beira Mar

Originalmente publicado em 1871, a obra foi uma homenagem de Maria Firmina em memória de sua mãe, Leonor Felippa dos Reis. A produção literária conta com uma coletânea com cinquenta e seis poesias que exploram a inquietação e sensibilidade de Maria. Entre os poemas, estão os famosos “Uma tarde em Cumã”, “Sonho ou Visão?”, “Nas praias de Cumã”, “Meditação” e “Melancolia”.

  • Gênero: Poemas
  • Editora: Tipografia do País, São Luís, MA
  • Ano de publicação: 1871

Hinos

Em sua extensa coletânea, Maria Firmina dos Reis também tinha produzido uma série de hinos e canções. Foi com ativa contribuição de Maria que surgiu o principal hino do movimento de abolição da escravatura.

Hino à liberdade dos escravos

Criado em 1888, tal canção foi fundamental para que o movimento de contra a escravidão ganhasse força e foi o grito de liberdade para muitos negros após a implantação da lei de abolição.

Salve Pátria do Progresso!
Salve! Salve Deus a Igualdade!
Salve! Salve o Sol que raiou hoje,
Difundindo a Liberdade!

Quebrou-se enfim a cadeia
Da nefanda Escravidão!
Aqueles que antes oprimias,
Hoje terás como irmão!

  • Gênero: Outros
  • Editora: [s.n.]
  • Ano de publicação: 1888
  • Descrição: Composição musical da letra e música

Hino à Mocidade

Ó mocidade, avante! Avante!
O Brasil sobre nós ergue a fé!
Esse imenso colosso e gigante
Trabalhai por erguê-lo de pé!

  • Gênero: Outros
  • Editora: [s.n.]
  • Século de publicação: XIX
  • Descrição: Composição musical da letra e música

Valsa

Produção com letra de Gonçalves Dias e música – cifras e composição – de Maria Firmina dos Reis.
Quem me pode escutar nesta altura
Os segredos que minha alma contém.
Quem me pode enxugar este pranto
Que nas águas se embebem também.
Estas ondas que vão para a terra
Levarão meu barquinho tão só;
Acharão meu cadáver nas águas
Mergulhado num túmulo de pó.
Não terei no sepulcro uma lousa
Onde possa meu nome escrever;
Onde a planta não brota uma flor
E o cipreste não pode crescer
Lá, na sombra do alto coqueiro,
Dormirei sobre a praia ao luar;
Pescadores que velam alta noite
Acharão meu cadáver no mar.
Amanhã na deserta enseada
Onde as águas revoltadas vem.
Entre espumas e búzios da praia.
Acharão os meus restos também.
Alta noite!… todos dormem!…
Brilha a lua como um dia.
Brilha um poeta entre os búzios.
– Antônio Gonçalves Dias!

  • Gênero: Outros
  • Editora: [s.n.]
  • Século de publicação: XIX
  • Descrição: Letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis

Jornais literários

As publicações de Maria Firmina ganharam destaque e contribuíram assiduamente com grandes jornais literários, como:

  • A Verdadeira Marmota;
  • Semanário Maranhense;
  • O Domingo;
  • O País;
  • Pacotilha;
  • O Federalista.

Antologias

Com sua obra redescoberta em 1960, Maria Firmina passou a contar com antologias. Tal termo significa o compilado – ou coleção – dos trabalhos literários de um escritor, agrupados por temática e período de publicação.

Parnaso maranhense

Sua obra “Cantos à beira mar” integrou em 1861 a antologia poética, que era composta por poemas e composições de diversos escritores renomados.

Maria Firmina: fragmentos de uma vida

Biografia escrita por José Nascimento Morais Filho, a obra nasce a partir de detalhes da vida de Maria Firmina nunca antes descobertos. No entanto, apesar de contar a história da escritora, o biógrafo reconhece que pouco sabemos sobre todas as produções literárias, bem como sua vida e até fisionomia, a biografia carrega o nome “fragmentos de uma vida”.

Escritoras brasileiras do século XIX

O livro foi criado a partir de uma triste constatação: a ausência e esquecimento das grandes escritoras do século XIX na história literária brasileira. Com o intuito de criticar e reverter tal situação, uma equipe de pesquisadoras resgatou cerca de 53 escritoras e trouxeram suas obras à tona nessa antologia, em 1999.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica

Composto por uma coleção de 4 volumes, a produção foi organizada pelos professores de Letras Eduardo de Assis Duarte e Maria Nazareth Soares Fonseca. As obras reúnem informações e criações de escritores afro-brasileiros, como Maria Firmina, afrontando o esquecimento de tal classe na literatura nacional. A divisão acontece por épocas e é distribuído da seguinte forma: autores nascidos antes de 1930 (precursores; entre 1930 e 1940 (consolidação); segunda metade do século XX (contemporaneidade); o quarto volume é dedicado a ensaios críticos.

Presença nos Vestibulares

Com o reconhecimento de sua importância para a evolução da literatura nacional, o nome de Maria Firmina passou a estar presente em importantes ambientes educacionais, como vestibulares, provas de concursos públicos e nas aulas de ensino médio. Suas obras fazem parte da lista de leitura obrigatória para importantes processos seletivos, como Enem e vestibulares da UFRGS, UNB e UESPI.

Sua presença e visibilidade fez com que outras grandes escritoras também fossem valorizadas, com a Maria Carolina de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”, que retrata seu cotidiano como catadora de lixo em uma favela.

Agora que você sabe tudo sobre Maria Firmina dos Reis, leia também sobre:

Texto escrito por: PRAVALER
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