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Ruth Guimarães: conheça a vida e obras da escritora Ruth Guimarães: conheça a vida e obras da escritora

Ruth Guimarães: conheça a vida e obras da escritora

Você já ouviu falar em Ruth Guimarães? Nascida em 1920 em Cachoeira Paulista, Ruth foi uma grande romancista, poetisa, contista e tradutora brasileira, se destacando por ser a primeira escritora negra brasileira que conseguiu notoriedade no Brasil.

Aprendiz de Mário de Andrade e amiga de grandes escritores como Jorge Amado e João Guimarães Rosa, a autora deixou um grande legado e contribuição para a educação pública de São Paulo, sendo, além de escritora, professora de língua portuguesa e pesquisadora do folclore afro-brasileiro.

Quer aprender mais sobre a vida da famosa escritora representante da literatura afro-brasileira?

Vem com a gente e boa leitura!

Quem foi Ruth Guimarães?

Ruth Botelho Guimarães nasceu em 1920 na cidade de Cachoeira Paulista e faleceu em 2014, aos 93 anos, após uma carreira notável na literatura e na poesia. Começou a escrever ainda aos dez anos, publicando seus poemas nos jornais “A região” e “A notícia”, de circulação local.

Posteriormente, mudou-se para São Paulo para estudar Filosofia, Letras e Folclore e Estética na USP, Universidade de São Paulo. Foi na cidade que teve seu primeiro contato com Mário de Andrade, um dos fundadores do modernismo brasileiro e grande representante da Semana de Arte Moderna de 1922.

O autor foi responsável por inserir Ruth Guimarães no círculo intelectual da cidade, quando a autora começou a participar do grupo de intelectuais conhecido como Roda da Baruel. Segundo Ruth, Mário de Andrade foi seu grande mestre, responsável por lhe apresentar a cultura popular. Com a publicação de um poema de sua autoria no jornal “O roteiro” e de seu principal romance “Água Funda”, conseguiu reconhecimento da crítica, recebendo elogios até mesmo de Antônio Candido, grande crítico da literatura brasileira.

Além de poeta, romancista e cronista, Ruth Guimarães também trabalhou por toda a sua vida como jornalista, professora de língua portuguesa, pesquisadora da história e do folclore brasileiros e tradutora, traduzindo obras de Dostoiévski e Balzac, representantes de peso da história da literatura. Como jornalista, trabalhou em grandes veículos como:

  • Correio Paulistano;
  • A Gazeta;
  • Diário de São Paulo;
  • Folha da Manhã;
  • O Estado de S. Paulo;
  • Globo;
  • Revista Lusitana

Apesar da qualidade de suas obras e da grande contribuição de Ruth para a literatura brasileira, a autora só foi eleita para ocupar um lugar na Academia Brasileira de Letras em 2008, poucos anos antes de sua morte. Também em 2008, Ruth Guimarães chefiou a Secretaria de Cultura de Cachoeira Paulista. Além disso, a autora participou de importantes iniciativas culturais, como o Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade e a  Sociedade Paulista de Escritores.

Obras de Ruth Guimarães

A contribuição de Ruth Guimarães foi muito além de romances. Confira a lista de seus trabalhos publicados:

  • Água funda
  • Os Filhos do medo
  • Crônicas valeparaibanas
  • Contos de cidadezinha
  • Contos negros
  • Contos índios
  • Contos do céu e da terra
  • Contos de encantamento
  • Mulheres Célebres
  • As Mães na Lenda e na História
  • Líderes Religiosos
  • Lendas e Fábulas do Brasil
  • Dicionário de Mitologia Grega
  • O Mundo Caboclo de Valdomiro Silveira
  • Grandes Enigmas da História
  • Medicina Mágica: as simpatias
  • Lendas e Fábulas do Brasil
  • Calidoscópio
  • Histórias de Onça
  • Histórias de Jabuti
  • Traduções
  • Histórias Fascinantes, de Honoré de Balzac: seleção, tradução e prefácio
  • O asno de ouro. Introdução e tradução direta do latim.
  • Os Mais Brilhantes Contos de Dostoievski, de Fiodor Dostoievski. Introdução, seleção e tradução.
  • Contos de Dostoievski. Introdução, seleção e tradução.
  • Contos de Alphonse Daudet. Seleção e prefácio.
  • Contos de Balzac. Seleção, tradução e prefácio.
  • Os Melhores Contos de Alphonse Daudet. Seleção e prefácio.
  • Os Melhores Contos de F. Dostoievski. Tradução, seleção e introdução.
  • Os Melhores Contos de Balzac
  • Buda e Jesus, diálogos
  • Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica.

Principal obra de Ruth Guimarães

A principal obra de Ruth Guimarães, “Água Funda”, foi publicada em 1946, após ser revisada por nomes de peso como Amadeu de Queiroz e Jorge Amado. Entre as características de suas obras, estão os elementos folclóricos e marcas da cultura índigena, regionalismo, enaltecimento da cultura negra, valorização da oralidade, crítica social e realismo fantástico.

Água Funda

O romance “Água funda” se passa no sul de Minas Gerais, no final do século XIX, e aborda a vida dos personagens principais Sinhá Carolina e Joca. O livro retrata o contexto escravocrata e o período de transição após o fim da escravidão e o trabalho livre. Ruth Guimarães, retrata, em “Água Funda”, questões culturais, sociais, morais, de gênero, de raça e classe, além de abordar o aspecto da loucura, tema que une os dois personagens principais.

O livro foi muito bem recebido pela crítica e aplaudido por intelectuais como Antonio Candido e Nelson Werneck. Antonio Candido, que assina o prefácio da segunda edição, assinala: “Ruth Guimarães nos prende porque tem a capacidade de representar a vida por meio da ilusão literária, graças à insinuante voz narrativa que inventou”.

Já Oswaldo Camargo, escritor e crítico, acrescenta:

“Com o romance Água funda, Ruth Guimarães oferece uma intensa e deliciosa viagem pelo universo caipira da fazenda Olhos D’água, localizada em uma cidadezinha do interior mineiro, aos pés da Serra da Mantiqueira. O mundo de atmosfera mágica por onde desfilam senhores e sinhás, contadores de casos, ou causos, e no qual a superstição e o sobrenatural muitas vezes orientam a vida cotidiana. (apresentação da autora durante debate no Museu Afro Brasil, em 2007”.

Já em relação a sua obra, Ruth afirma:

“Água funda é um livro engraçado, livro da vida de todos os dias, é um livro de “acontecências”. Qualquer vida dá uma água funda, qualquer um de nós escreve um diário e conta aquelas coisas de todos os dias e vai sair uma água funda. Porque a verdade do livro, alegria, o que o livro tem de bom, de literário, é que ele é um livro de todos os dias, que acontece na vida de cada um. A gente procura o que tem na Água funda; nada, nem água. Claro, eu aprendi português em primeiro lugar, que é uma coisa que eu receito para os neo-escritores: que façam o favor de aprender português em primeiro lugar para depois escrever sua água funda. “

Frases de Ruth Guimarães

Seja em livros ou em entrevistas, algumas frases e depoimentos de Ruth Guimarães ganharam destaque entre os interlocutores. Confira algumas:

“A minha vida foi orientada no sentido de escrever.”

“Quando as coisas têm que ser, parece que tudo se encaminha nessa direção.”

“Eu sou contadeira de história até hoje.”

“Eu não decidi escrever um livro, não. O livro se escreveu sozinho.”

“O [autor] que eu admiro mais e com quem eu concordo no total é Machado de Assis.”

“A gente dar opinião sem estar com uma base boa também é até um pecado.”

“Palavra que não é de povo é palavra morta.””

Sobre a história negra, em depoimento para o Museu Afro do Brasil, em 2007, Ruth dissertou:

“Nós precisamos saber da raiz negra de onde viemos. A história negra está por fazer, a literatura negra está por fazer, a poesia está por fazer. Eu, depois de velha, resolvi pesquisar e, para isso, eu estou contando e escrevendo histórias, tentando fazer um fabulário brasileiro, não só com pesquisa entre negros, mas entre o povo, todo o nosso povo e, ocasionalmente, quando se faz o estudo aí a gente separa: isso daqui para lá é dos pretos, isto de lá para cá é de todo mundo. Muita gente já fez esses estudos e até descobriram uma coisa muito bonita, muito gratificante para a gente: que todas aquelas qualidades do povo brasileiro, aquele povo igual, alegre, que aceita, que aguenta os trancos, que passa por tudo quanto é ruindade neste mundo, essa qualidade boa, excelente, que faz de nós um povo único no mundo, nós devemos aos negros. Os negros é que são assim, aguentaram e continuam aguentando; não sei se são muito pacientes. Se for medir por mim, porque o homem é a medida do homem, se for medir por mim, essa qualidade de paciência nós não temos. Eu não tenho paciência. Não sou uma criatura paciente, mas sou uma criatura alegre, graças aos meus ascendentes negros. E agora, depois de muito velha, estou fazendo pesquisa e procurando o rastro do negro na nossa literatura de povo e na nossa alegria de contar histórias.”

Instituto Ruth Guimarães

O Instituto Ruth Guimarães foi fundado em 2019 com o objetivo de manter viva a memória da autora e promover discussões e grupos de estudo sobre arte, literatura e as obras de Ruth. O local escolhido para celebrar Ruth Guimarães é a casa onde viveu a artista com Zizinho, seu marido, falecido em 2001.

O Instituto é localizado em Cachoeira Paulista, cidade de seu nascimento, e recebe visitas guiadas para escolas e outros grupos. Além disso, também faz atendimento a pesquisadores, com o objetivo de fomentar a discussão e pesquisas sobre o folclore brasileiro e a memória da cultura negra. É possível agendar sua visita e conhecer mais sobre a escritora clicando aqui.

Agora que você sabe tudo sobre Ruth Guimarães, leia também sobre:

Texto escrito por: Prasaber
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